Feliz aniversário, Buffett! Um viva à lenda que “peitou” o status quo
Warren Buffet
No último domingo, 30 de agosto, Warren Buffet fez aniversário. A lenda viva dos investimentos chegou aos 90 anos com hábitos simples, uma pequena casa onde mora há mais de 30 anos e um inimaginável patrimônio de US$ 79 bilhões.
Dificilmente alguém que se interesse o mínimo por finanças jamais tenha ouvido falar em Buffett e sua história. Por exemplo, a de quando ele e um amigo de escola, ainda adolescentes, compraram uma máquina de fliperama e colocaram em uma barbearia. Tempos depois, eles eram donos de dezenas de máquinas espalhadas pela cidade.
Ou então, sobre como ele conheceu, no mestrado em Finanças da Universidade de Columbia, Benjamin Graham, o homem que, segundo Buffet, foi o segundo que mais o influenciou na vida, atrás apenas de seu pai.
Com o professor Graham, Buffett aprendeu aquilo que hoje é seu maior legado aos jovens investidores:
- a estratégia de investir em empresas sólidas e com grande capacidade de geração de valor;
- a paciência para esperar o retorno; e
- o foco no longo prazo.
“Peitando” os acadêmicos
Quero lembrar aqui uma das minhas histórias favoritas a respeito de Buffett.
Ele próprio a conta em uma das cartas aos investidores da Berkshire Hathaway, holding da qual é CEO há mais de 50 anos.
Nos anos 1970, Buffett e seu sócio na Berkshire, Charlie Munger, adquiriram uma participação relevante em um dos principais grupos de mídia da época nos EUA, a Washington Post Company.
Os dois avaliaram a empresa e concluíram que ela valia US$ 500 milhões, mas o mercado a estava precificando a US$ 100 milhões. Ao constatar essa diferença e o potencial de lucro, eles aplicaram nas ações e, ao longo do tempo, obtiveram um lucro milionário.
Até aí, nada é aparentemente extraordinário, senão as cifras. Mas é preciso lembrar do contexto em que Buffett e Munger investiram. No fim dos anos 1960, o economista americano Eugene Fama havia publicado sua tese de mestrado trazendo uma hipótese pela qual ele é conhecido até hoje. Fama propôs que o mercado financeiro é eficiente.
Isso significa que os preços dos ativos refletem com eficiência todas as informações disponíveis sobre eles, não havendo, portanto, espaço para assimetrias. Isso tem implicações diretas sobre o investimento em ações. De acordo com o modelo de Fama, não há barganhas na bolsa. Ou seja, compra-se uma ação pelo preço justo, e ganha-se dinheiro com o tempo, à medida que a empresa crescer.
O Sr. Mercado
Buffett e Munger foram na direção oposta.
Eles estavam convictos de que nem todos os analistas e investidores eram capazes de enxergar todas as possibilidades, nem de assimilar o impacto que cada informação tinha sobre determinado negócio.
Por isso, em vez de admitir a hipótese do mercado eficiente, eles ousaram dar ouvidos aos conselhos de seu mentor, Ben Graham. O professor ensinou que um investidor deveria imaginar as cotações das ações como vindas de um sujeito “excepcionalmente complacente”, chamado de Sr. Mercado.
Em vez de ser plenamente racional, como os acadêmicos da época propunham, o Sr. Mercado estava mais para alguém com “problemas emocionais incuráveis”. Em alguns dias, estava eufórico, vendendo ativos por preços altos. No entanto, em outros, depressivo, escolhendo um preço baixo demais.
Porém, apesar da instabilidade, o Sr. Mercado não se importa em ser ignorado. Isso porque, se sua oferta não é aceita em um dia, ele volta no dia seguinte com outra. Portanto, a realização do negócio depende unicamente do investidor.
“Sob essas condições, quanto mais maníaco-depressivo o comportamento dele, melhor para você”, escreveu Buffett, a respeito da relação entre os investidores e o mercado.
Valuation: não tenha medo de pensar
A tese de Buffett é, portanto, simples. Basta estudar as empresas a fundo, avaliando:
- sua situação financeira;
- o mercado em que ela atua (e a posição dela nesse mercado); e
- a capacidade que seus gestores têm de gerar valor.
Esse jeito de investir alinha-se totalmente ao método de Análise Fundamentalista. Trata-se de uma metodologia de avaliação das empresas, à procura de seu valor justo, isto é, quanto elas deveriam estar valendo, com base em suas características. Ao achar esses valores, os comparamos com o quanto estão valendo a preço de mercado. Compramos ações das empresas cujo valor de mercado está abaixo do valor considerado justo.
Ao pensarem investimentos em ações dessa forma, Buffett e Munger foram na contramão dos acadêmicos de sua época, os quais consideravam que, por causa da presumida eficiência dos mercados, “cálculos de valor empresarial – e mesmo pensar sobre ele – não eram de nenhuma importância em atividades de investimento”.
Duas décadas depois de investir nas as ações da Washington Post Company, já tendo obtido um lucro extraordinário com elas, Buffett escreveu aos investidores da Berkshire, referindo-se aos acadêmicos de seus dias:
“Nós estamos com uma enorme dívida para com esses acadêmicos: o que poderia ser mais vantajoso em uma disputa intelectual – seja ela bridge, xadrez, ou a seleção de ações – do que ter oponentes que aprenderam que pensar é um desperdício de energia?”
Feliz aniversário, Sr. Buffett. Vida longa e próspera!
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1 comentário
Parabéns Eduardo! Tão jovem e vidente com a máquina de fliperama e depois de muito estudo, aproveitou a oportunidade de comprar uma ação barata. Mas a principal lição: Buffet nunca esteve sozinho…seja com seu pai, professor, sócios e parceiros na vida toda.