O índice preço-lucro, vulgo P/L, é um dos mais famosos e utilizados indicadores para determinar se uma ação está barata ou cara.
Por isso, se você não está bem familiarizado com ele, sugiro que antes de ler as linhas a seguir, clique aqui para ler um outro artigo que publiquei.
O ponto principal desse indicador é que ele divide o preço de uma ação pelo lucro que a companhia obteve no período. Obviamente que calculamos isso numa mesma base. Ou seja, olhamos o preço de uma única ação e o lucro por ação (LPA) da empresa.
Um exemplo para ilustrar o entendimento!
O Banco Itaú teve um lucro líquido de R$ 17,6 bilhões nos últimos 12 meses. Essa companhia possui aproximadamente 8,8 bilhões de ações emitidas. Dessa forma, o LPA (lucro por ação) do banco foi de 2,04 (17,6 / 8,8).
Quanto maior o lucro da empresa mais feliz o acionista fica. Dessa forma, futuros acionistas querem comprar o papel a um preço relativamente baixo para ganharem dinheiro com a alta no futuro.
Calculando o índice preço-lucro
Aí se calcula o índice P/L: a gente pega o preço do papel (R$ 24,43 em 28/08/2020) e divide pelo LPA (R$ 2,04, nos últimos 12 meses). Chegamos num P/L aproximadamente igual a 12.
Isso quer dizer que a ação do Itaú é negociada a 12 vezes o seu lucro.
É importante a gente perceber que pela intuição uma ação barata possui índice preço-lucro baixo, pois estamos pagando menos por cada unidade de lucro que compramos. Lembre-se que investidores compram lucros presentes e futuros.
Contudo, às vezes, achamos que é um bom negócio comprar algumas ações de empresas com índice preço-lucro bem alto.
Um outro exemplo!
Em agosto de 2018, o índice preço-lucro igual da Magazine Luiza (MGLU3) era de 43,7 (bem alto) e a ação com já esperávamos trouxe um retorno de quase 500% ao seu acionista de lá para cá. Isso porque quem comprou Magazine Luiza a época estava pagando não somente pelos lucros que já existiam, mas pelos lucros que a empresa viria a criar nos próximos períodos.
Ou seja, quando calculamos o índice preço-lucro temos uma boa estimativa se uma ação está cara ou barata de acordo com os lucros que ela já gera, não em relação aos seus lucros futuros.
Mas, empresas cujos lucros estão crescendo fortemente podem ter índice preço-lucro alto e ainda assim serem boas alternativas de investimento. Por essa razão, as empresas vistas como potenciais de alto crescimento de lucros (growth stocks) possuem preço-lucro lá nas alturas.
Pois bem. Resolvi verificar se a estratégia de escolher as ações mais baratas traz vantagens aos acionistas da bolsa brasileira.
Durante os últimos 26 anos, a partir da estabilização da moeda brasileira com o plano real, montei carteiras todos os anos dividindo a bolsa em 10 portfólios.
- O P1 é o portfolio com as empresas de P/L mais baixo.
- O P10 com as empresas de P/L mais alto.
Todos os anos fiz um rebalanceamento das carteiras de modo que peguei as empresas de índice P/L mais baixo na P1 e índice P/L mais alto na P10 e todas as intermediárias alinhadas nessa ordem do índice.
Os resultados são interessantíssimos!
Carteiras com ações que possuem índice P/L menor (P1 e P2) tiveram um desempenho muito superior. Ao compararmos com o índice Bovespa então, essa superioridade fica ainda mais evidente. O Ibovespa teve um retorno médio na casa de 16,5% ao ano nesse período.
Algumas considerações se fazem importantes:
- O período de tempo considerado foi de 1995 até 2020;
- Em cada exercício desconsideram ações de empresas com P/L negativo;
- Os rebalanceamentos anuais das carteiras foram feitos sempre no primeiro dia útil de maio, data na qual, em situações normais, todas as empresas já divulgaram os demonstrativos fechados do ano anterior.
- Utilizamos as cotações do último pregão no primeiro dia útil de maio. Dessa forma, simulamos a situação real de mercado na qual o investidor escolhe a suas carteiras nessa data, nos baseando no índice preço-lucro de cada ação.
Conclusão
A conclusão principal é que ao montar carteiras diversificadas, parece haver um prêmio para o investidor que escolhe carteiras com ações de índice preço-lucro mais baixo. Esse estudo não é nada inédito e muito menos a sua conclusão.
Entretanto, o mais importante é que esse resultado não pode ser aplicado em ações individuais.
Conhecemos inúmeras histórias de ações com índice preço-lucro baixo que foram um fiasco ao considerar o retorno para o acionista nos períodos seguintes. Por outro lado, parece haver uma forte compensação na medida em que a maioria das ações chamadas ações de valor (value investing) tem uma performance superior, pois no momento em que é feito o investimento são ações baratas.
Outro ponto importante: lucros que existem são mais certos do que promessas de lucros futuros (growth stocks). Isso vale de forma predominante na montagem de carteiras.
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