Educação financeira para bancários
Caros amigos do Mundo Financeiro,
Hoje vamos falar de dinheiro, mas não sobre investimentos, mercado de capitais e qualquer tipo de operação financeira. Vamos conversar sobre nosso comportamento relacionado ao dinheiro. Isso impacta diretamente nossas carreiras se lembrarmos que, na prática, ter o nome em cadastros negativos pode, sim, fechar portas em muitas instituições. Muitos colegas que cuidam muito bem dos recursos de seus clientes deslizam quando o assunto é o próprio dinheiro.
Não vamos falar o “banquês”, nem usar termos técnicos. Sinta-se em um bate-papo sobre algo presente em praticamente tudo, de alguma forma, em nossa vida: o dinheiro. Um bate-papo em forma de artigo feito de gente para gente.
Em momentos de recessão, muitas vezes surge o auto-questionamento: “o que eu poderia ter feito diferente para ter constituído uma reserva financeira?”. Muitos certamente já se viram nessa situação. Os que nunca estiveram lá estão de parabéns: estes souberam a importância do auto-controle financeiro.
A equação é o mais simples possível: gastar mais do que temos nunca será algo bom. Às vezes, esse desequilíbrio entre entradas e saídas pode ser causado por situações fora do nosso controle, peças que a vida prega e que temos de administrar. Mas pode ser também consequência do nosso comportamento, nossa miopia financeira, invertendo prioridades e gastando dinheiro meramente impulsionados por nossas emoções. Não podemos agir assim quando o assunto é dinheiro. É preciso que sejamos racionais, porque ganhar dinheiro, geralmente, é consequência de suor e muitas horas dedicadas à sua fonte pagadora.
Muitas pessoas vivem como se o limite do cartão de crédito ou do cheque especial fossem parte do salário, e isso as torna reféns de juros altos. O salário, que poderia ser direcionado a conquistas, será usado para pagar dívidas. Uma dívida saudável é aquela que é planejada, pensando em crescimento pessoal, acadêmico ou patrimonial. As dívidas que são feitas para pagar coisas que não mudam sua vida ou que foram frutos de más escolhas são dívidas ruins, que reduzem drasticamente o poder de compra e de consumação de sonhos.
Como estruturar um planejamento financeiro dentro da minha realidade?
Há um conceito muito interessante das “três reservas”, que consiste em termos um capital guardado para emergências ou planos imediatos, outro para planos maiores de conquistas e realizações e um terceiro pensando na velhice, principalmente agora, com a situação caótica e pouco promissora do sistema previdenciário público.
O “pensar” hoje, muda o “ser” amanhã.
Pare e analise: vivemos em um país no qual trabalhamos mais de 40% do ano para pagar impostos, e nosso salário é o que nos permite sonhar, conquistar e viver cada etapa da vida com tranquilidade. Então, por que motivo não damos o valor devido a ele?
Sou adepto a teoria de que tudo em excesso faz mal. Penso que o equilíbrio, seja qual for o assunto discutido, é a melhor opção. O nosso dinheiro serve não apenas para suprir nossas necessidades, mas também os desejos, como viagens e outras compras. Tudo isso é normal, desde que obedeça a clara ordem de prioridades que devemos adotar em nossa vida.
Dê tchau ao vermelho e volte às pazes com o azul.
O momento econômico fez muitos experimentarem o até então desconhecido gosto amargo da restrição ao crédito e da inadimplência. Creio que algumas coisas na vida devem ser resolvidas, e outras, administradas. Situações como essa estão no primeiro grupo. Protelar dívida é ruim, por inúmeras razões: a dívida aumenta, o nome “sujo” mancha anos de boa reputação como pagador e prejudica a relação da pessoa com instituições financeiras. Esqueça o mito de que rolar a dívida até ter condições de pagar tudo é uma boa opção.
Procure a instituição à qual você deve, faça proposta, analise, negocie. O nome “limpo”, além de trazer a sensação de leveza à pessoa, abre portas, tanto em sua vida de cliente, quanto de profissional, enquanto você procura recolocação no mercado. Saiba que o perfil de endividamento é um critério muito analisado por empresas que buscam profissionais, principalmente para cargos de gestão.
Saber falar “não!” e poupar fazem toda a diferença.
Seu cartão de crédito não deve ser visto como uma porta aberta para compras como se não houvesse amanhã. O amanhã existe, e você terá de pagar. Se não tiver o recurso e recorrer ao vicioso cheque especial ou rotativo do cartão, estará dando um grande passo de volta ao buraco. Exceto em situações de extrema necessidade, estas linhas devem ser evitadas ou ao menos utilizadas com consciência, para que seja de fato um benefício e não um “sócio” de seus ganhos.
Na época de boa colheita, guarde para os dias de geada. A natureza nos dá vários exemplos dessa atitude simples, mas que dificilmente é aceita pelas pessoas: a blindagem contra os momentos de instabilidade. O guardar não é simplesmente a busca por enriquecimento, e sim a estruturação para a sobrevivência.
Volte àquele conceito das três reservas, que é a abordagem inicial de qualquer consultor de investimentos. Busque, por mais árduo que seja, acumular ao menos 6 meses de salário, para que, se surgir algum imprevisto, você não tenha que recorrer a empréstimos, nem deixe de ter condições de arcar com custos básicos. Isso fere a dignidade, acaba com a auto-estima e faz a pessoa se sentir incapaz. Olhe quantas consequências um comportamento simples pode evitar.
Nada de boicote à realidade! Conheça a sua realidade e trabalhe para mudá-la em etapas e com prioridades.
Seus bens não nasceram com você. Foram conquistados ao longo do tempo. Se necessário, em determinado momento, abra mão de coisas não essenciais, até que você possa obtê-las novamente, com o reequilíbrio das finanças. Um grande erro que alguém pode cometer é o apego ao patamar atual de vida. É necessário reconhecer a adversidade e encará-la. Identifique todos os gastos, todas as dívidas e procure credores, analise as prioridades e as classifique para que as que exigem ação imediata sejam as primeiras a serem regularizadas.
Segundo a escala criada pelo escritor Gustavo Cerbasi, referência no assunto, existem 4 graus de endividamento: o primeiro é o eventual, oriundo de dívidas planejadas e geralmente ligadas à conquista ou compra de bens; há ainda o endividamento moderado, no qual a pessoa gasta boa parte do que ganha para pagar juros, mas com a situação ainda sob controle; o terceiro tipo é o endividamento grave, em que as dívidas aumentam devido às dificuldade de honrar compromissos; e o endividamento crítico, em que as dívidas já fugiram do controle e já impactam no acesso ao crédito, tornando-se maiores do que os ganhos. Seja qual for o grau, as orientações são as mesmas: encarar a realidade é sempre a melhor opção.
E se você estiver sem renda no momento, mas estiver endividado, como agir? Guarde estes conceitos e siga na luta. Ao conseguir recolocação, busque inicialmente a solução das pendências e, em seguida, comece a poupar. Faça disso um hábito. Fazer o dinheiro “trabalhar” por você e vê-lo render é prazeroso e pode abreviar suas próximas conquistas. Tudo é questão de disciplina e mudança comportamental e cultural.
A dívida é nossa!
É comum que, em uma família, a renda seja formada com a contribuição de várias pessoas da casa. É fundamental que todos tenham a mesma atitude. Um barco em que um rema para frente e os demais para trás jamais terá navegação tranquila, para um destino certo. São recomendáveis constantes check-ups financeiros entre casais, pais e filhos, irmãos, enfim, entre pessoas que participam ativamente do “PIB” do lar, o que pode fazer a saúde financeira ir bem ou parar na UTI.
Dica importante: transparência e cumplicidade são palavras-chave para que as finanças compartilhadas sejam motivo de alegria e não de atritos.
Cuidado com a cultura do “cabe no meu bolso”.
A cada dia, somos impactados por ofertas e mais ofertas. Geralmente, elas surgem criando uma “necessidade repentina” e fazem parecer que aquela compra inesperada é acessível. Afinal, dividindo em 12 ou 24 vezes sem juros tudo fica mais fácil. Contudo, o custo do vendedor está embutido de alguma forma nessas condições de pagamento. Se não houver uma postura firme para renunciar à tentação, em poucas exposições a ofertas, seu salário estará comprometido com dívidas por muito tempo.
Por ser uma conversa sobre dinheiro, eu poderia estender este material por diversas páginas, contudo, minha intenção é ser relativamente objetivo, sem ser formal, sem usar de termos técnicos e buscando inserir você, leitor, em cada cenário abordado.
Não existe fórmula mágica. Existe ação emergencial, sem protelar e sem auto-sabotagem.
Por onde iniciar uma revolução como esta? No seu próximo ato de compra! Tenha metas, divida gastos por categoria e prioridades. Evite deixar compromissos distribuídos em datas (unificar datas faz que o controle seja mais fácil), faça uma reserva mensal por menor que seja, valorize cada centavo ganho e analise onde e como ele deve ser gasto, evite dividas longas, enfim, SAIBA FALAR NÃO A SI MESMO!
Uma vez feita à lição de casa, pensamos posteriormente, quem sabe em um próximo artigo, a falar de investimentos. Pensando bem, TOPAM UM DESAFIO? Vamos começar a virar essa página hoje? Passem a acompanhar sites que abordam o tema investimentos, conheça aplicativos gratuitos, se planeje e comece a guardar, preferencialmente em uma conta apartada à que utiliza para seus pagamentos. Uma maratona só termina se for dado o primeiro passo no inicio de tudo.
Vamos começar com 5% ao mês? Comece com pouco, se puder, avance aos 10% do que ganhar, não existe hora certa para começar a construir um colchão financeiro. Se esperar a “hora certa” nunca investirá nada, afinal isso é ilusão, pois sempre teremos necessidades e desejos realizáveis pelo dinheiro. Estamos doutrinados a achar que nunca estará sobrando, por isso é fundamental dar o primeiro passo.
Faça o teste dos 30 dias, some o quanto deixou de gastar e lembre-se que mesmo sem estar ganhando como gostaria, uma pessoa pode poupar reduzindo custos e gastos sem necessidade. Desperdiçar é escravizar seu trabalho a troco de nada, está dedicando tempo e esforços sem ter retorno algum.
Nos vemos na semana que vem, até lá!
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