Como a Taxa de Juros SELIC mais baixa afeta o mercado acionário e imobiliário? Devo investir tudo em renda variável?
No artigo anterior nós discutimos algumas perguntas que o CEO do Mundo Financeiro, Felipe Garrán, fez ao professor Antônio Lanzana, acerca da queda da taxa de juros SELIC e seu impacto na economia brasileira.
Foi bastante interessante, não foi? Então agora, neste artigo, você vai acompanhar as 4 últimas perguntas sobre esse tema!
Espero que tire o melhor proveito dessa conversa, e não deixe de ver a primeira parte do artigo! É só clicar aqui: Economia Brasileira e a Taxa SELIC. Onde investir com os juros baixos?
Aliás, esse artigo faz parte de uma Live conduzida pelos professores! Caso você queira assistir à Live, é só clica aqui: Live: A taxa SELIC caiu! E agora? Onde investir?
O que você vai ver neste artigo…
- O crescimento do mercado imobiliário e porque devemos entender o perfil de risco do investidor
- Acabou o período de simplesmente se apoiar na SELIC, devemos buscar investimentos com mais risco
- Fazer a diversificação da carteira e usar apenas uma pequena parte do capital para os ativos de maior risco
- Como a entrada de capital estrangeiro pode ou não causar uma alta nos preços das ações
Então vamos ao que interessa.
1. O que tenho visto são pessoas que pensam em retirar todos seus investimentos em renda fixa pós-fixada e direcionar para ações. Mas a ideia é fazer a diversificação da carteira, ou seja, pegar uma parte do capital e alocar em ativos que assumimos maior risco. Parece que a bola da vez são os fundos imobiliários. Como você vê esse mercado?
Acho essa pergunta excelente. Primeiro ponto, eu assessoro muita gente sobre planejamento financeiro, e o ponto fundamental é entender o perfil do investidor.
Eu acho muito medíocre quando vem um jornal falando que a recomendação é 50, 30 e 20. Cada pessoa tem um perfil, uma necessidade, uma idade diferente. Você não pode generalizar o que é uma carteira adequada. Acho que esse é um primeiro ponto.
Olhando os diferentes perfis, eu encontrei muita gente que a disposição de correr risco é zero, que só aplicam em renda fixa ou onde há FGC. Então há duas opções para esse perfil com a taxa de juros baixa: Ou você muda o perfil, ou você vai começar a ter rendimentos muito baixos ou negativos. Nós, como consultores, não podemos induzir uma pessoa a correr um risco, para depois ele chegar em casa e não dormir direto. Então acho que esse é um primeiro ponto.
Olhando o conjunto dos investidores, o que a gente vai observar é uma redução nos ativos de menor risco, para algum tipo de risco. Esse é o movimento mais global, que não é, como o Felipe falou, tiro tudo daqui e ponho lá. Você vai precisar fazer uma diversificação. Então o que eu vejo é um movimento de ativos de menor risco para ativos de maior risco.
A experiência mostra que ao reduzir as taxas de juros, um dos mercados que vão ser favorecidos é o imobiliário, e isso ainda vai ser duplamente favorecido, primeiro porque os níveis estavam muito baixos, os preços estavam deprimidos, eu até escrevi um artigo sobre isso no Mundo Financeiro. E segundo que agora há financiamentos novos muito mais baratos do que a gente tinha anteriormente, e isso também é um incentivo para aquisição em um período de vacas magras. Então é um mercado que com certeza vai crescer com a taxa de juros mais baixa.
Quando fala em fundo imobiliário, tem vários tipos de fundos, e precisa olhar um pouquinho a composição. A tendência é de que tudo ligado ao mercado imobiliário vai crescer.
Um segundo mercado que vai ser favorecido com a queda da taxa de juros, como nós comentamos anteriormente, é o mercado acionário. Agora, aí tem algumas questões que me parecem importantes. Dentro desse mercado acionário, empresas de que segmentos tendem a ser mais favorecidas?
A um curto prazo, são empresas de bens de consumo duráveis. Porque isso? Porque quem está alavancando e vai alavancar o crescimento do Brasil a curto prazo é crédito. Além disso, numa visão de médio prazo, empresas ligadas a infraestrutura também vão bem. Hoje, nós temos no Brasil uma péssima infraestrutura: porto, aeroporto, rodovia, o que é uma péssima informação.
Uma boa informação é que isso vai alavancar crescimento para o Brasil. Atualmente, nós temos um ministro de infraestrutura muito competente, realista, produzindo projetos adequados para atrair, principalmente, capital estrangeiro.
O que eu acho que é uma mudança importante para se pensar, na gestão de recursos financeiros, é o período com que você vai precisar consultar ou trocar ideias ou tomar decisões. Você vai para um fundo imobiliário, vai ficar lá até quando? Então eu acho que as informações, o acompanhamento do mercado financeiro, por causa da taxa de juros lá embaixo, vai ter que ser muito maior do que antes. Isso é uma mudança de paradigma importante.
2. Antes os investidores simplesmente se apoiavam na taxa de juros SELIC e pronto. Agora precisamos buscar ativos com grande potencial de valorização, mas que não estejam caros. Esse vai ser o grande desafio, certo?
Acho que uma coisa que precisa ficar muito claro é que você saiu de uma situação de comodismo, quando comprava uma letra de câmbio de três ou quatro anos e deixava rendendo. Isso acabou, estamos em uma nova realidade.
Ao você mudar esse perfil de aplicação, algum grau de risco você vai correr. Primeiro, qual grau de risco você está disposto a correr. Diversificar a carteira ajuda bastante, mas o acompanhamento é contínuo, e não dá mais para você comprar um título de três ou quatro anos e só começar a se preocupar três ou quatro anos depois. Você vai precisar fazer uma gestão dos seus ativos de forma mais frequente.
3. Então é fundamental fazer a diversificação da carteira. E, ao migrar para os ativos de maior risco, investir uma porcentagem pequena de seu capital. Dessa forma, caso haja perda, não seja tão insustentável, certo?
Acho que uma questão importante do que você está comentando, Felipe, é o seguinte. Mesmo quem tinha uma visão um pouco mais de mercado, mesmo com período de juros elevados, era comum ele fazer alguma diversificação com papéis pré-fixados e pós-fixados. Mas, o que aconteceu foi que a taxa de juros no Brasil caiu muito mais rapidamente do que o previsto, então tem muita gente ainda com o papel pré-fixado com 12% ou 14% que está num paraíso total.
Essa pré-fixação, agora, qualquer papel novo está embutido toda essa expectativa de ganhos mais baixos. Ao comprar um papel pré-fixado para daqui a 4 ou 5 anos, e supomos que temos uma balbúrdia na eleição de 2022, a inflação sobe e seu dinheiro vira pó. Então tudo tem risco e tudo justifica uma diversificação.
4. A história tem mostrado que a bolsa brasileira é bastante suscetível à entrada de capital estrangeiro. Você tem alguma expectativa em relação a essa entrada de capital que poderia dar uma pressão de demanda para os ativos e uma alta de preços?
Vamos lá. eu acho que tem vários fatores que precisam ser ponderados nessa questão. Primeiro deles: cenário internacional. O que vemos no mundo hoje? Um mundo meio morno para 2020, não melhora nem piora, não há agravamento das coisas, nada disso. No entanto, olhando aqui para dentro, o que o investidor está olhando são dois pontos importantes: o primeiro é como as reformas vão avançar no congresso brasileiro, principalmente a reforma administrativa.
Essa reforma, se passar 50%, que é o que o Guedes está propondo é um avanço monumental. O segundo ponto, que acho que já vai começar no ano que vem, principalmente com o capital da China, são bons projetos de infraestrutura. O mercado chinês, principalmente, está no aguardo de projetos para a área principalmente de energia elétrica e ferrovia. Então, para resumir são esses três pontos críticos: a situação internacional, o avanço das reformas e a infraestrutura. Isso avançando, acho que vem capital para empresa, para bolsa, vem para todo lugar. E acho que o que vai entrar muito menos no Brasil é capital especulativo, o dólar fumaça.
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Os professores
Antonio Lanzana é professor e palestrante convidado da Fundação Dom Cabral (FDC). É Doutor e Mestre em Economia pela Universidade de São Paulo (USP). Além disso, é professor do Departamento de Economia da FEA-USP e da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – USP. Atua como Coordenador de Programas de MBA da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE-USP).
Prof. Lanzana foi Economista Chefe e Consultor Econômico da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Consultor do SEBRAE-SP. Além disso, foi membro do Conselho Editorial da Revista “Estudos Econômicos”, da FIPE/USP.
Também é autor dos livros “Economia Brasileira – Fundamentos e Atualidade”, Editora Atlas e “Economia Brasileira – Da Estabilização Ao Crescimento”, Editora Atlas.
Felipe Garrán: Doutor em Finanças pela USP, CEO do Mundo Financeiro. Certificado CGA e CNPI e professor de Finanças na FIA Business School. Além disso, é coordenador dos cursos de pós-graduação e MBA na FIA Business School.
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